A primeira década do século 21 foi em grande medida escrita nos Estados Unidos. Começou com uma grave crise geopolítica, no coração de Nova York — o 11 de Setembro —, e terminou com uma grave crise econômica, também ambientada em Nova York, no centro financeiro de Wall Street. A crise financeira iniciada em 2007, causada pela perda de valor de ativos imobiliários, carregou a Europa, se alastrou pelo mundo e provocou uma recessão global no ano de 2009. Levou à nacionalização de bancos, derrubou governos, gerou taxas de desemprego altíssimas e causou várias ondas de protestos, muitos deles violentos.

Bolha imobiliária

A crise de 2008 é tida por muitos economistas como a pior crise desde Grande Depressão de 1929. Tudo começou com a concessão de financiamentos imobiliários de alto risco concedidos pelos bancos.

Os financiamentos imobiliários foram concedidos sem a análise de crédito adequada. Desse modo, quando as pessoas não conseguiram pagar suas dívidas, a bolha estourou e atingiu diversos setores econômicos e vários países.

Além do crédito sem uma real garantia de retorno, os bancos também emitiam os CDO – Collateralized Debt Obligations ou traduzindo Obrigações de Dívidas Colaterizadas, como uma forma de conseguir mais dinheiro para então aprovar mais empréstimos.

Como os CDOs eram adquiridos por investidores em todo o mundo, quando a bolha estourou, esses investidores também foram atingidos.

Na época em que a bolha imobiliária dos EUA estourou, o Brasil estava passando por um bom momento econômico. Apesar disso, os efeitos da crise de 2008 também foram sentidos no Brasil. O governo tomou medidas visando o incentivo ao consumo. Porém, houve retração do Produto Interno Bruto (PIB), alta do dólar e aumento da inflação.

Crise do subprime

A Crise do Subprime foi uma das principais causas da Crise Financeira de 2008, e teve origem no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Ela envolveu a falência de uma série de instituições financeiras e o colapso do mercado de hipotecas de risco, levando a uma crise global.

Esse colapso revelou falhas estruturais no sistema financeiro global e expôs a vulnerabilidade de produtos financeiros complexos, como os títulos lastreados em hipotecas e derivativos. A crise provocou recessões, desemprego e uma grande perda de confiança no sistema bancário, forçando governos a intervir com pacotes de resgate e políticas econômicas emergenciais para evitar um colapso ainda maior.

As consequências dessa crise levaram a mudanças significativas na regulamentação financeira, com o objetivo de evitar a repetição de práticas irresponsáveis. Embora o mercado tenha se recuperado parcialmente, as repercussões da Crise do Subprime ainda são sentidas em muitas partes do mundo, provocando debates contínuos sobre a necessidade de maior supervisão e controle no setor financeiro global.

Desregulamentação financeira

Considerada por muitos economistas como a pior crise econômica desde a Grande Depressão. a desregulamentação financeira durante os anos que antecederam a Crise de 2008 foi um dos principais fatores que contribuíram para o colapso do sistema financeiro global. Essa desregulamentação foi promovida, em grande parte, por uma série de políticas e decisões governamentais e do setor financeiro, que procuravam reduzir as restrições e permitir uma maior liberdade para os mercados financeiros.

1. Reformas nos Anos 1980 e 1990 - A partir dos anos 1980, começou um movimento de desregulação dos mercados financeiros, promovido por políticas de livre mercado, com o objetivo de aumentar a eficiência e o crescimento econômico, mas isso também aumentou os riscos.

2. Lei Gramm-Leach-Bliley (1999) - Revogou a Lei Glass-Steagall, permitindo que os bancos comerciais e de investimentos operassem juntos. Isso possibilitou uma maior exposição a atividades de risco, como especulação financeira.

3. A Falha na Regulação de Derivativos: A SEC não conseguiu regular adequadamente os derivados financeiros, como os CDOs (Collateralized Debt Obligations), que se tornaram produtos financeiros complexos e de alto risco, vendidos globalmente sem transparência.

4. Falta de Controle sobre Hipotecas Subprime: A desregulamentação facilitou a concessão de hipotecas de alto risco a mutuários sem capacidade de pagamento, o que gerou uma grande bolha imobiliária e a propagação de empréstimos arriscados.

5. Criação de Produtos Financeiros Complexos: Bancos começaram a empacotar hipotecas subprime em produtos financeiros, como CDOs, que eram classificados erroneamente como de baixo risco, espalhando os riscos por todo o sistema financeiro.

6. Política Monetária Acomodativa: O Federal Reserve manteve taxas de juros baixas, incentivando o crédito fácil e a especulação imobiliária, sem uma supervisão eficaz dos riscos envolvidos.

7. Pressão do Lobby Financeiro: Instituições financeiras pressionaram por mais desregulamentação e maior liberdade de operação, o que resultou em uma falta de controle sobre as práticas de risco no mercado.

8. Consequências da Desregulamentação: A falta de regulação adequada, junto com a concessão indiscriminada de empréstimos subprime e a criação de produtos financeiros complexos, levou ao colapso da bolha imobiliária e a uma crise financeira global em 2008.

Queda do pib

A queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 2008 foi uma das consequências mais significativas do colapso do sistema financeiro global e teve um impacto profundo na economia mundial.

1. Impacto nos Estados Unidos: O PIB dos Estados Unidos caiu 4,3% no último trimestre de 2008 e 0,1% no ano. A crise foi provocada pela falência de grandes bancos, o colapso do mercado imobiliário e a queda no consumo e no crédito.

2. Impacto Global: A crise afetou economias ao redor do mundo, levando a uma recessão global. A zona do euro teve uma queda de 4,3% no PIB em 2009, enquanto a China viu uma desaceleração no crescimento, de 13% em 2007 para 9% em 2008.

3. Impacto nas Economias Emergentes: Países como o Brasil e o México também sofreram quedas no PIB devido à desaceleração das exportações e à falta de crédito, com o Brasil passando de 5,1% de crescimento em 2008 para 0,3% em 2009.

4. Fatores contribuintes: A crise foi impulsionada pela queda do mercado imobiliário, falta de crédito, desemprego crescente e queda nas exportações, todos elementos que afetaram profundamente a economia global.

Resposta Global à Crise

1. Pacotes de Estímulo e Resgates Financeiros: Governos de várias nações adotaram pacotes de resgate bancário e estímulo econômico para conter os efeitos da crise. Nos Estados Unidos, o governo implementou o Plano de Resgate de 700 bilhões de dólares, enquanto a União Europeia adotou pacotes de estímulo fiscal. Muitas grandes instituições financeiras receberam resgates, e em alguns casos, como no Reino Unido, bancos inteiros foram nacionalizados para evitar seu colapso completo.

2. Mudanças nas Políticas Econômicas: A crise também levou a reformas nas políticas econômicas e financeiras globais. Uma das principais mudanças foi a criação de novas regulamentações para o sistema financeiro, com o objetivo de evitar uma repetição da crise. Nos EUA, a Lei Dodd-Frank foi promulgada em 2010 para aumentar a supervisão dos mercados financeiros e reduzir os riscos no sistema bancário.

3. Austeridade e Protestos: Em muitos países, os pacotes de estímulo foram seguidos por políticas de austeridade para reduzir os déficits fiscais, o que resultou em tensões sociais. Na Grécia, por exemplo, as medidas de austeridade geraram uma onda de protestos que se espalhou para outros países da zona do euro.

Lições

As lições aprendidas com a Crise de 2008 são fundamentais não apenas para economistas e reguladores financeiros, mas também para o público em geral. A crise revelou uma série de falhas no sistema financeiro global e em políticas econômicas, e essas lições ajudaram a moldar as respostas governamentais, as regulamentações financeiras e os comportamentos do mercado nos anos seguintes. Aqui estão algumas das principais lições extraídas da crise:

1. Importância da Regulação: A crise demonstrou a necessidade de uma supervisão financeira mais robusta, especialmente sobre produtos financeiros complexos e derivados, para proteger a economia global.

2. Necessidade de Diversificação: A crise mostrou que uma forte dependência de setores específicos, como o imobiliário, pode tornar os mercados vulneráveis. A diversificação é fundamental para evitar riscos sistêmicos.

3. Risco Moral e Comportamento de Mercado: A crise expôs o problema do risco moral, em que empresas e indivíduos assumem comportamentos de risco sem considerar plenamente as consequências, contando com o fato de que serão resgatados pelo governo em caso de falência.